Juju - a dona do pedaço

Juju - a dona do pedaço
JUJU - a dona do pedaço

Família de Peludos

Família de Peludos
"Este blog é feito com muito carinho. Nasceu da vontade de compartilhar

experiências, textos, conhecimentos, dicas a partir da convivência com felinos;

de descobrir como as pessoas em diferentes partes do mundo convivem com esses seres fascinantes.

A família vai adorar que você deixe um comentário.

Entre e fique à vontade... "



quinta-feira, 26 de março de 2009

quarta-feira, 25 de março de 2009

Casa de Gatos







Feita de caixas de papelão (grosso), possui dois andares interligados por uma abertura interna. Deixa qualquer gato "doido". Serve de esconderijo, entradas e saídas livres, janelas para observação, sobe e desce de andar. O difícil é dividir com os outros! Rs

domingo, 8 de março de 2009

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS UNIVERSAIS DOS GATOS

SIM, levante seus pés ao entrar num aposento. Rabo pisado dói prá caramba.
NÃO tente dormir no meio da cama. Fique com a sua beirada.
NÃO monopolize o travesseiro. Divida-o conosco enquanto a gente não rouba ele de vez.
SIM, nos avise antes de fazer a cama, para termos tempo de sair debaixo das cobertas.
NÃO nos enrole nos cobertores e role de rir … isso cansa a beleza de qualquer um.
NÃO se levante da mesa e deixe um prato de galinha sozinho … você é muito bobo se pensa que ela vai ficar muito tempo ali.
NÃO corra atrás de nós berrando “SEU BANDIDO !!!” … *você* é que pôs a tentação no nosso caminho.
SIM, limpe os lugares ensolarados primeiro. Como é que você quer que a gente durma lá ?
SIM, ofereça seu leite para nós … ou ele vai acabar no seu colo.
NÃO fique de pé para comer. Muitos de nós não conseguem pular essa altura.
SIM, o gatinho velho tem direito à primeira lambida na tigela de sorvete … e NÃO o filhotinho bonitinho que chegou ontem.
NÃO brinque mais com um de nós do que com os outros … ou suas pernas vão acabar cheias de listras vermelhas.
SIM, fale conosco como adultos … não somos bebês, somos gatos, e pelo amor de Deus, fale naturalmente e não como o Mickey Mouse no cio!
SIM, entenda que escolhemos você porque sabíamos que você iria nos alimentar e amar … por favor, leia o contrato de novo, especialmente aquela parte a respeito de bife e atum … alguns de vocês não estão cumprindo a sua parte.
NÃO esvazie o cesto de roupa limpa com a gente dentro … sonecas são sagradas … especialmente na roupa limpa. E você sempre pode lavá-la de novo.
NÃO nos tire de nossos esconderijos para nos apresentar a seus amigos. Se nós quiséssemos conhecê-los não estaríamos escondidos, certo ?
SIM, tenha certeza que quando formos convidados a conhecer seus amigos nós vamos dar nossa opinião *sincera* sobre eles. Não fique vermelho e se desculpando. Você começou.
SIM, merecemos uma recompensa por nos comportarmos bem até todo mundo ter ido para casa.
(autor desconhecido)

sábado, 7 de março de 2009

OS GATOS E A FEMINILIDADE

Ano passado, uma certa apresentadora de conteúdos 'esotéricos' da TV Bandeirantes havia recomendado o abandono de qualquer gato preto de olhos amarelos, sob a alegação de que eles vinham ao mundo para a prática de feitiçarias demoníacas. (Coincidentemente, pouco depois uma de minhas gatas, preta e de olhos amarelos, chamada LILITH, fugiu de casa.) Eu jamais me rebaixaria a perder tempo rebatendo essa idiotice, comento somente que, infelizmente, essa idiota ainda é menos pior do que os imbecis que acreditam nela.
Esse episódio porém me fez lembrar de um tema que há muito me propus a escrever, mas que por vários motivos negligenciei, sobre a estranha relação entre os seres humanos e um dos mais populares animais domésticos, os gatos. Uma relação que, se observada em seus níveis mais ocultos, revela um quadro perturbador da mentalidade humana, com tremendas implicações sócio-culturais.
Não estou exagerando, por trás desta questão se esconde, ao menos em parte, a chave para a compreensão de boa parte dos problemas da humanidade. Mas antes de discutir isso, temos que discorrer primeiro sobre essa relação em si.


HUMANOS e GATOS
Quem não adora cães? Praticamente todas as pessoas tem alguma simpatia por esses adoráveis animais. Mesmo porque são considerados companheiros fiéis, 'O Melhor Amigo do 'Homem." Comigo não é diferente, tive ao longo da vida dezenas de cães, sofri muito com a morte de vários deles, e acumulei diversas e interessantes experiências.
Pessoas que declaram não gostar de cães são raríssimas. Há quem nunca teve nem pretenda ter, não se sinta à vontade. Mas é difícil encontrar quem os deteste.
Infelizmente não podemos dizer o mesmo dos gatos. Embora existam muitas pessoas que os adorem, eu incluso, a quantidade de pessoas que os odeiam é enorme, muitas das quais assumem isso abertamente.

Gatos sempre foram as vítimas preferenciais de crueldades contra animais, a violência contra essa espécie se manifesta das mais diversas e estranhas formas.
Milhares de gatos foram queimados em fogueiras, não só pela Caça às Bruxas, mas por revoluções populares variadas. Foram responsabilizados por toda a sorte de mazelas, inclusive de disseminar doenças, quando eram exatamente eles que as controlavam, caçando os reais disseminadores.
Em muitos momentos históricos a civilização humana seria inviável sem os gatos, visto que eliminam a terrível praga dos ratos, que além espalharem as mais diversas doenças, destroem depósitos de alimentos, e roem a própria infra-estrutura das cidades.
Apesar disso, na maioria dos desenhos de gato e rato, são os ratos, e não os gatos, os heróis!
Há muitas justificativas para que não se goste de gatos, mas além do mero fato de quem não gosta deles raramente ter convivido com um, é interessante notar que todas essas justificativas são baseadas em preconceitos, equívocos, ou mesmo completamente fantasiosas.
A mais famosa de todas é a que taxa o gato de um animal traiçoeiro, interesseiro e que não gosta realmente de seus donos.

É curioso notar que só quem pensa isso é quem nunca os teve na vida. Pergunte aos criadores de gatos o que eles pensam disso, e descobrirá que não passa de uma bobagem.
Assim como os cães, há diversos comportamentos nos gatos, que variam não só de raça pra raça, mas mesmo entre indivíduos de uma mesmíssima raça e ninhada. É verdade que há alguns pouco carinhosos e mesmo agressivos, mas não são nem sequer maioria. Há tanto carinho e afeição entre gatos e humanos quanto em humanos e cães.
Comparando os gatos com os cães, por sinal, é que notamos o quanto os argumentos contra os gatos são furados. É claro que muitas pessoas já foram machucadas por gatos, mas quantas também não o foram por cães? Inclusive os próprios donos? No entanto os cães jamais levaram a fama de traiçoeiros, e sim o contrário, de fiéis.
Curiosamente, porém, o máximo que um gato pode fazer contra um humano e furar-lhe um olho, o que no entanto é tão raro que desafio qualquer um a mostrar um exemplo comprovado. Por outro lado, milhares de pessoas já foram mortas por cães, algumas totalmente destroçadas. Os ataques dos pobres pit bulls, por culpa da estupidez de seus donos, tem sido recorrentes nos jornais. Mesmo assim, nem os pit bulls foram taxados de animais traiçoeiros, ainda que volta e meia um mate o próprio dono.
Portanto, dizer que os gatos são traiçoeiros é no mínimo tão sem fundamento quanto dizer que os cães o são. O mesmo pode-se dizer de que são interesseiros, como se qualquer cão também não o fosse, ainda que num estilo diferente.
Costuma-se também dizer que os gatos são mais apegados à casa do que aos donos, ao contrário dos cães. Curiosamente ninguém parece perceber que isso decorre apenas do simples fato de que é quase impossível prender um gato dentro de casa. Eles saem com facilidade, e voltam. Já os pobres cães são fáceis de serem aprisionados e mantidos cativos num local específico. Mas se lhes for dada a oportunidade, eles agem de modo muitíssimo parecido.
De fato é mais difícil levar gatos para passear, pois eles são mesmo mais independentes, e é exatamente nesta independência que reside a primeira pista de porque existe tanto preconceito contra gatos.
Outra queixa frequente contra gatos se deve ao barulho que podem causar, em especial quando copulam. Mas os cães não ficam nada atrás, por vezes latindo inutilmente a noite inteira, e são tão ou mais escandalosos quando cruzam. E se é certo que diferente dos cães, os gatos costumam subir em telhados, tente comparar a quantidade de ocorrências de gatos fazendo baderna em telhados, com a muitíssimo maior de cães fazendo algazarras equivalentes.
O que se notará é que por algum motivo só os gatos levam a má fama. Chega-se ao ponto de serem considerados animais insalubres quando apenas por acaso são nada mais nada menos do que OS MAIS LIMPOS dentre todos os animais! E ainda por cima ajudam a tornar os ambientes, inclusive as ruas das cidades, mais limpos, eliminando animais realmente insalubres.
Então, por que tantas pessoas não gostam de gatos?

VÍTIMAS DO ÓDIOQuem, ao passear em uma feira popular ou qualquer local onde haja comerciantes ambulantes, já não se deparou com aqueles vendedores que simulam espancamentos de gatos dentro de sacos? Com o propósito de vender um dispositivo que imita o som do animal, esses vendedores nunca utilizam uma imitação mais criativa, alguma coisa simpática, ou uma abordagem meramente divertida. Ao menos para mim.
Causa-me revolta notar que muitas pessoas acham isso engraçado! Eu sei que não é real, mas da mesma forma como sei que uma cena chocante num filme é uma mera encenação, ainda assim ela não perde seu potencial de causar desconforto, que é exatamente o que eu sinto ao me deparar com esse espetáculo de péssimo gosto.
Por que é engraçado? Por que simular o espancamento cruel, e o sofrimento de um animal, consegue divertir certas pessoas?
Agora façamos outra pergunta: Alguém ja viu simulações de tortura de algum outro animal?
Não! É sempre o gato! Esses rituais de perversão na realidade não sugerem por acaso única e exclusivamente um gato como vítima, mas sim revelam que existe uma enorme aceitação social pela agressão a gatos. É fácil localizar na internet, a começar pelo infame Orkut, blogs, comunidades e outras inutilidades voltadas ao ódio aos gatos, alguns até mesmo ensinando a torturá-los. Gatos já foram queimados aos milhares em fogueiras públicas na Europa, e não somente por qualquer preocupação sanitária equivocada, e continuam sendo os únicos animais que são vítimas de assassinos seriais.
O ódio aos gatos tem até um hino popular, Atirei o pau no gato....
Nunca, nada nem parecido, aconteceu com cães, e já temos, na questão dos assassinos seriais, uma pista para entender o porquê de tanta demência. Alguém já ouviu falar em assassinos seriais de lutadores de jiu-jitsu? De halterofilistas, ou de homens fortes em geral?
Claro que não. Assassinos seriais só matam crianças e mulheres, quando muito, adolescentes e homens homossexuais. Vale lembrar também, que é um padrão comum entre os assassinos seriais começarem na infância matando e ou torturando animais, preferencialmente, gatos.


PRECONCEITO MESMO ENTRE AS CAMADAS ESCLARECIDAS
O maior sinal de que um preconceito é forte não é obtido somente ao avaliar o comportamento da população mais humilde, mas sim quando observamos que o mesmo preconceito é mantido mesmo nas camadas mais esclarecidas da sociedade. Para mostrar isso, e também para adicionar alguns dados acadêmicos ao tema, vejamos um trabalho desenvolvido por colegas meus da Universidade de Brasília, intitulado
Matança de Gatos na UnB.
Embora os autores nem passem perto de examinar as causas fundamentais do problema, como eu pretendo fazer, eles apresentam dados interessantíssimos, em especial, quando se pedem motivos pelos quais os gatos devem, e se devem, ser removidos ou exterminados do campus universitário. O argumento que mais aparece contra os felinos é disparado o mais falso de todos, o de que eles transmitem doenças, em segundo lugar, o de que causam danos à limpeza, em especial rasgando sacos de lixo, e que destroem equipamentos de laboratório.
O mais curioso entretanto é que essas últimas reclamações são quase exclusivas das pessoas que não estão envolvidas nem na limpeza, nem na manutenção dos laboratórios. Entre os verdadeiros responsáveis por essas incumbências, as mesmas reclamações foram muito menores.
O que salta aos olhos, é que as pessoas procuram argumentos para tentar validar sua repulsa aos gatos, e como a maioria dos que os fazem não conhecem o animal, acabam recorrendo a preconceitos e equívocos injustificáveis, como o de afirmar que gatos sujam o ambiente com excrementos quando na realidade são os únicos animais domésticos que não só fazem suas necessidades sempre na terra, ou areia, como ainda enterram suas fezes! Na realidade, são os únicos animais domésticos que aprendem até a
usar vaso sanitário! (Não acredita? Veja também AQUI)
Mais interessante ainda é notar que nesta mesma pesquisa, listou-se a reação predominante das pessoas aos gatos, e o que se vê é uma apresentação estatística daquilo que é óbvio quando se examina o assunto. Os gatos são amados OU odiados, quase sem meio termo. Vale a pena reproduzir os números. Os entrevistados em questão, no âmbito universitário, vêem nos gatos:
1) Afeição (223 entrevistados)
2) Aversão (215 entrevistados)
3) Admiração (193 entrevistados)
4) Medo (75 entrevistados)
5) Indiferença (46 entrevistados)
6) Superstição (11 entrevistados)
7) Utilidade (10 entrevistados)
Repare que a indiferença aparece em quinto lugar, e a superstição em sexto, acima, PASMEM, da utilidade, que é conhecida da humanidade desde o Egito Antigo!
É interessante notar que muitas pessoas que não tem afeição ou interesse em se relacionar com gatos, ainda assim os admiram, e isso é a última dica que vou dar antes de explicar o porquê de existir tantas excentricidades a respeito dos gatos.

POR QUE OS GATOS SÃO TÃO TEMIDOS E ODIADOS?Como vimos, nada parece responder racionalmente a esta pergunta. Preste atenção nas pessoas que não gostam de gatos, e notará que a maioria delas age assim porque foi ensinada. Em geral são filhos de pessoas que também não gostavam, e até repetem frases feitas como "Gosto muito de gato, eu cá, e ele lá".
A resposta que dou a essa questão, obtida após uma longa reflexão e discussão com minha esposa, outra amante de gatos, é a seguinte:


Os gatos são odiados porque são um SÍMBOLO da FEMINILIDADE.


Para sustentar essa afirmação, tudo que eu preciso é mostrar que os gatos são um símbolo do Feminino, e que o Feminino, isto é, o aspecto existencial da Feminilidade, presente em toda nossa experiência humana, é uma característica que sofre preconceitos e dificuldades de aceitação.

GATOS e FEMINILIDADEA primeira afirmação é a mais fácil. Simbolicamente, o gato é sempre associado às mulheres. A divindade egípcia Bastet, onde os gatos chegaram a ser adorados, é uma deusa, enquanto a divindade chacal, um parente do cão, é um deus (Anúbis).

Os gatos foram fortemente associados às bruxas, morrendo com elas nas fogueiras da ignorância e sendo responsabilizados por crimes sobrenaturais, como roubar a alma de crianças.

[Até hoje, há quem afirme o absurdo de que gatos transmitem asma, curiosa e especialmente, para crianças. Visto que asma nem sequer é contagiosa, e ainda que fosse, o seria tanto contra crianças quanto contra adultos, essa afirmação é tão fantasiosa que só pode ser a versão moderna desta superstição.]
Gatos são animais sensuais, eles se esfregam, se roçam, são sedutores, e por isso consideramos as mulheres bonitas como "gatas", ou "panteras", que são versões macro dos gatos. A beleza é uma virtude que sempre nos soa feminina, Afrodite, a deusa da beleza, é uma mulher. Mesmo quando se chama um homem de "gato", faz-se alusão à uma característica feminina. No nordeste brasileiro há até a estranha expressão "gato véio" (assim mesmo, no masculino), para se referir à mulher de vida sexual ativa.
Passeando no supermercado, observe as capas de ração para animais. Você notará que nas de rações caninas encontram-se mais homens do que mulheres, e muitas vezes o cão olha diretamente para o dono. Na capas de rações felinas, quando há humanos, SEMPRE são mulheres, e o gato jamais está olhando para a dona.
A parceria gato-mulher e cão-homem pode ser quase tão antiga quanto a humanidade, visto que os cães eram companheiros de caça, ou guardiões de território, atividade que também cabia aos homens. Já os gatos, sendo mais caseiros, ficavam mais próximos das mulheres.
Em inglês, essa associação é ainda mais flagrante. O andar rebolado, atitude tipicamente feminina, é catwalk, e a palavra pussy se aplica tanto ao felino quanto à genitália feminina. Por outro lado, o andar dos cães é bem mais "másculo", muitas vezes um trote, e eles nunca cruzam as pernas ao andar, característica fundamental do rebolado feminino, pelo contrário, andam com as pernas abertas, característica típica do andar masculino.
Vamos insistir na comparação gatos e cães e veremos como essa associação vai ainda mais longe. Os cães, como já foi dito, são na língua inglesa frequentemente chamados de buddies, um termo sem tradução literal que significa um amigo/parceiro masculino de um homem. E não é só na caça que cães e homens têm andado juntos, mas em praticamente todos os símbolos.
O lobisomen, sendo o lobo uma versão do cão, sempre é um homem, mas quando se pensa em associar um gato a um humano, a mulher é colocada automaticamente. Os poucos 'homens-gatos' e 'mulheres-lobo' só apareceram quando o imaginário já estava saciado com 'mulheres-gato' e 'homens-lobo', lembrando que as mulheres só são associadas a lobas em idades pós-balsaquianas.
Uma estória que capturou bem essa relação de gênero é
The Cat that Walked by Himself do escritor britânico Rudyard Kipling, (autor de Mogli, o menino-lobo) que no livro Just So Stories conta esta estória, cujo título significa "O Gato que Andava Sozinho/Por conta própria", e é apresentada uma forma lendária muito comum, que remonta a um fabuloso passado onde os animais falavam, e onde os eventos decorridos explicam suas características atuais.
Os animais eram todos livres, mas o cão trocou sua liberdade pela parceria com o homem na caça, recebendo costela de carneiro assada como pagamento. A vaca também o fez em troca de receber a mais suculenta das relvas ao passo que fornecia leite para os humanos, o cavalo também, passando a ser montaria do homem.
Evidentemente cavalo e cão passaram a trabalhar com o homem, e a vaca e o gato com a mulher, na casa. O gato, entretanto, não abriu mão de sua liberdade, fazendo um pacto secreto com a mulher, sem o conhecimento do homem, no qual se encarregava de divertir e acalmar as crianças, e eliminar os ratos, tão temidos pelas mulheres. Não ter cedido sua independência, no entanto, teve um preço, e o gato foi condenado a ser odiado por 3 a cada 5 homens bons, e a ser perseguido pelo cão.
Enfim, os exemplos são tão vastos que não parece necessário citá-los mais, no entanto essa estória reflete a clara divisão de papéis sociais, a mulher em casa, na vida doméstica, e o homem vai ao trabalho, à caça, e se os cães estão em harmonia com a atividade masculina, e os gatos com a feminina, por outro lado, há um anacronismo no fato do gato permanecer livre para andar por onde quiser, tendo o direito de ir e vir.
E é aí que está a chave para o entendimento do problema, pois embora seja um símbolo do feminino, o gato não é um representante direto da feminilidade típica socialmente sacramentada, mas sim da feminilidade oculta, livre e independente, que nossa civilização, há milhares de anos, tem lutado para reprimir.

EVA X LILITHA segunda afirmação, de que a nossa cultura tem uma relação difícil com a feminilidade, também não é difícil de demonstrar, mas merece mais esclarecimento aos não familiarizados com um certo tema, que é central neste texto.
Ao longo de milhares de anos, 50% da humanidade, a metade feminina, esteve relegada a uma importância secundária. A condição feminina ao longo da maior parte da história, na maior parte do mundo, sempre foi desvantajosa em vários sentidos, e isso é ponto pacífico.
No entanto, as mulheres são parte integrante da humanidade, a feminilidade faz parte de nossa vida, com plena aceitação social, porém na realidade apenas até certo ponto.
Enquanto a masculinidade foi preservada de modo mais ou menos coeso, a feminilidade foi dividida em duas partes, uma aceita e dignificada, e a outra desprezada e marginalizada, porém, cobiçada. A esses dois aspectos femininos distintos utilizo os nomes de aspecto EVA e aspecto
LILITH.
EVA é o aspecto socialmente aceito e dignificado. A figura feminina da Mãe, esposa fiel e zelosa, guardiã do lar, submissa e obediente, e ainda que bela, deve ser discreta e recatada, passiva. Ainda que, simbolicamente tenha levado a culpa pela expulsão do paraíso, da mesma forma como Pandora, na mitologia grega, foi a culpada pela entrada dos males no mundo, Eva ainda assim é reconhecida como uma criação divina ao lado de Adão.
LILITH é o aspecto oculto, marginalizado. A figura feminina livre, independente, que não se submete ao masculino, sexualmente ativa, sedutora, que exerce seu poder sobre o masculino de forma direta. Na maioria esmagadora dos contextos sociais ao longo da história, isso significa estar arbitrariamente associada à prostituição, independente disto ser verdade ou não. Mulheres livres que escaparam do domínio masculino sempre foram acusadas de meretrício, visto que era uma forma de depreciá-las, mas também uma consequência natural do símbolo.
Lilith é um ser mitológico hebráico. Ela foi, na verdade, a primeira mulher de Adão, tendo sido criada em pé de igualdade com este. Porém, recusando-se a ser submissa, acabou fugindo, ou sendo expulsa, do paraíso, sendo então substituída pela obediente Eva.
Não se surpreenda quem nunca tiver ouvido falar de Lilith, embora ela seja personagem largamente reconhecida no folclore hebráico, estando presente nos livros religiosos da Cabala e na tradição Midrash. Todavia, entre as punições que recebeu por sua insubordinação, a mais 'notável' foi justamente o esquecimento, por meio da exclusão de qualquer referência à sua existência na Bíblia.
O observador atento no entanto, poderá notar que é possível ver claramente "lacunas" nos primeiros capítulos da Gênese que sugerem a existência de uma mulher anterior a Eva. Quem quiser uma análise mais detalhada, recomendo o texto
Jardim do Éden Revisitado, ou o verbete na wikipédia, mais simplificado.
O que nos importa aqui é que, quando estou falando da feminilidade renegada, não estou falando nas mães de família, na rainha do lar ou na donzela, mas sim na mulher insubmissa, que em nossa civilização sempre sofreu a pecha de praticar a profissão que um delirante ditado da burrice popular insiste em dizer ser a mais antiga do mundo.
Portanto, os gatos simbolizam o feminino Lilith, a sensualidade, beleza e sedução, associados à independência, insubmissão e autonomia. O arquétipo Lilith, numa sociedade machista, é uma ameaça ao estado de coisas, e portanto, será perseguido e desprezado das mais variadas formas, no entanto, jamais poderá ser extirpado, pois a humanidade depende dele tanto quanto do aspecto Eva, que representa antes de tudo a maternidade, quanto também do aspecto Adão, a masculinidade.


INSUBMISSÃO FEMININA
Os gatos são odiados, porque simbolizam exatamente isso, a Feminilidade Indomável, insubmissa, sensualmente livre e autônoma. Para manter um estado de coisas androcentrista, isto é, centrado na parte masculina da humanidade, é inevitável reprimir e controlar essa feminilidade, embora seja impossível destruí-la, mesmo porque a masculinidade facilmente sucumbe à sua sedução.
Ser vulnerável aos encantos das Liliths, porém, não as torna mais aceitáveis para a mentalidade androcêntrica, pelo contrário. É comum os homens não resistirem às prostitutas, e sempre procurarem seus serviços, mas mesmo assim, as desprezam, manifestando isso das mais diversas formas possíveis.
No mundo de hoje as mulheres estão cada vez mais reclamando o espaço que lhes foi negado historicamente, e isso, entre outras coisas, envolve fundir os aspectos Eva e Lilith numa matriz única, o que torna a feminilidade tão ou mais poderosa que a masculinidade, passando a estar então em pé de igualdade em todos os aspectos. Algo que a mentalidade conservadora e retrógrada não pode suportar.
Não é à toa, que não é difícil achar uma notável intercessão entre pessoas machistas, tanto homens quanto mulheres, e a indisposição por gatos. Não significa que todos os machistas detestem gatos e vice-versa, porque, como já disse, basta a mera convivência com eles para dissolver o preconceito e suavizar o símbolo, mas minha experiência, ao menos, sugere isso na maioria dos casos.
Também não significa que quem deteste gatos necessariamente seja machista, mesmo porque o ódio a gatos é inconscientemente transmitido sempre que possível, mesmo que quem o receba não tenha tendências a androcentrismo exacerbado. Para um apoio estatístico veja
esta interessante pesquisa nos EUA que associa a preferência por gatos ou cães entre homens e mulheres levando em conta sua inclinação político-social, Conservadora ou Liberal. Fiz uma versão traduzida do gráfico, onde temos L de Liberais e C de Conservadores, com um "+" para indicar um grau maior de tendência.



Esse é apenas uma das evidências que suportam essa tese, de que a matriz do preconceito, a origem do ódio, seguramente é associar ao animal um símbolo da feminilidade independente, a feminilidade LILITH.
O nome, então, para mim foi profético. Ninguém pode dominar as liliths, e minha gatinha preta de olhos amarelos, chamada Lilith, fugiu de casa e nunca mais voltou, enquanto a gatinha branca e cinza, que até tentamos apelidar de Eva, continua uma fiel matrona do lar até hoje, linda e gorda.
Enfim, você pode não acreditar nessa teoria, mas experimente observar sob esse ponto de vista e prepare-se para algumas surpresas. Exceções à parte, ela funciona!
Basta aceitar que os gatos são símbolos da Feminilidade Independente, que chamei de Lilith, e que esta é renegada pela nossa cultura, o que é exemplificado principalmente por sua completa omissão na Bíblia.
Se você ainda acha incrível, perceba que Lilith não é a única coisa que foi deliberadamente excluída dos textos sagrados judáico-cristãos, mas qualquer suporte a idéia de uma mulher ser independente e livre. Se os entusiastas de
O Código da Vinci estiverem certos em alguma coisa, os Evangelhos também terão excluído toda a importância de Maria Madalena, reduzindo-a de uma líder influente a uma mera prostituta arrependida. A Bíblia é inequivocamente um livro androcentrista, e quando surgem mulheres poderosas, geralmente são feiticeiras pagãs no Velho Testamento que acabam sendo derrotadas.
E além de eliminar não só o símbolo da liberdade feminina, Lilith, e qualquer outro exemplo similar, a Bíblia mesmo citando frequentemente inúmeros animais, entre cães, ovelhas, morcegos, hipopótamos, leões, porcos, cavalos, ratos, etc, sempre destacando sua importância em relação aos humanos, ainda assim...
Apesar de se preocupar em ser um registro amplo da história humana, inclusive envolvendo o Egito, em todos os mais de 4 milhões de caracteres dos 66 livros canônicos da Bíblia, não há, absolutamente, nenhuma referência à existência de gatos!

Marcus Valerio XR Iniciado em 16 de Julho de 2007 - Concluído em 14 de Janeiro de 2008.

DAS QUALIDADES DO GATO

Quando Deus fez o mundo, escolheu enchê-lo de animais, e decidiu dar uma qualidade especial para cada um. Todos os animais formaram diante Dele uma longa fila, e o gato, calmamente, foi para o fim da fila.

Deus deu ao elefante e ao urso a Força, ao coelho e ao cervo a Velocidade, a Sabedoria à coruja, Beleza aos pássaros e borboletas, Esperteza para a raposa, Inteligência para o macaco, Lealdade para o cão, Coragem para o leão, Alegria para a lontra... Todas estas coisas os animais haviam pedido para ter.

Afinal, ao fim da fila, o pequeno gato sentou-se e esperou paciente. Deus perguntou-lhe: - O que terá você ?

Ao que o gato encolheu os ombros e respondeu: - Qualquer coisa me servirá. Eu não ligo.

E Deus disse: - Mas eu sou Deus ! Quero lhe dar algo especial !

E o gato, espertamente, respondeu: - Então me dê um pouco de tudo, por favor !

E Deus, rindo-se da enorme inteligência do animal, deu para o gato a soma de todas as qualidades dos animais, mais a graça e a elegância, e um gentil ronronar, para que ele sempre atraísse os homens e conquistasse seus lares.

Autoria Desconhecida

O GATO E A RELIGIÃO

Muito embora não seja onde em dia tão difundido, o culto aos animais espalhava-se outrora pelo mundo. Mesmo os deuses que não possuíam forma animal tinham um animal sagrado a eles dedicado, que os simbolizava. Entre estes animais, o gato foi um dos mais adorados, tanto por sua fecundidade quanto por seus hábitos noturnos, que o tornaram o guardião da noite, dos mortos, e dos mistérios da vida e da morte.

O Culto Egípcio: No Egito dos faraós, o gato era adorado na figura da deusa Bastet, representada comumente com corpo de mulher e cabeça de gata. Esta bela deusa era o símbolo da luz, do calor e da energia. Era também o símbolo da lua, e acreditava-se que tinha o poder de fertilizar a terra e os homens, curar doenças e conduzir as almas dos mortos. Nesta época, os gatos eram considerados guardiões do outro mundo, e eram comuns em muitos amuletos.

O Gato na Grécia: Na Grécia clássica, o gato foi associado à feminilidade, ao amor e ao prazer sexual, atributos de Afrodite. Também foi associado à Artemis, a deusa da caça e da lua, da qual se dizia que teria escapado um perseguidor, Tiphon, transformada em gata.

O Culto em Roma: No Império Romano, o gato esteve ligado a várias deusas. Diana, a caçadora, governava a fecundidade e a lua, assim como Bastet, e uma lenda antiga atribui a ela a criação do gato. Também a sensual Vênus é representada como uma gata, uma encarnação de emoções maternas.

O Gato na Babilônia: Apesar de não haver culto ao gato, dizia um mito que o gato teria nascido do espirro de um leão. O leão, aliás, era um símbolo da realeza.

O Gato na América Pré-Colombiana : Na América, embora não houvessem gatos domésticos, os grandes felinos, como o puma e o jaguar, tiveram seu lugar no panteão dos deuses. O jaguar era símbolo de grande força e sabedoria, e acreditava-se que os curandeiros mortos transformassem-se neste animal.

O Culto Celta: Na cultura celta, a deusa Cerridwen tem um elo de ligação com o culto ao gato relativo à fecundidade através de seu filho Taliesin, que em uma de suas encarnações foi descrito como um gato com a cabeça sarapintada.

O Culto Escandinavo: Nas lendas nórdicas, aparece a deusa do submundo Freya, cuja carruagem era puxada por dois gatos, que representavam as qualidades da deusa, a fecundidade e a ferocidade. Estes gatos mostravam bem as facetas do gato doméstico, ao mesmo tempo afetuoso e terno, e feroz quando excitado. Os templos pagãos eram freqüentemente adornados com imagens de gatos. Na Finlândia, havia a crença em um trenó puxado por gatos que levava as almas dos mortos.

O Gato no Islã: Há uma série de contos associando os gatos ao profeta Maomé, a quem teriam inclusive salvo da morte, ao matar uma serpente que o atacava. Por causa desta associação entre o gato e o Islã, a Igreja Católica conseguiu tanto êxito ao relacionar o culto ao gato com as heresias e o demônio.

O Gato no Budismo: Nos cânones originais do budismo, o gato é excluído da lista de animais protegidos, devido ao fato de que, no momento da morte de Buda, quando todos os animais se reuniram para chorar seus restos, o gato haver não só mantido os olhos secos como comido tranqüilamente um rato, provando sua falta de respeito pelo acontecimento solene. Entretanto, apesar da lenda, o gato foi venerado pelos primeiros budistas por seu autodomínio e a tendência à meditação. Na China, estatuetas de gatos eram usadas para expulsar os maus espíritos, e havia dois tipos de gatos, os bons e os maus, que eram facilmente diferenciados por que os maus tinham duas caudas. No Japão, quando um gato morria, era enterrado no templo do dono, e no altar do mesmo era oferecido um gato semelhante, pintado ou esculpido, para garantir ao dono tranqüilidade e boa sorte durante sua vida.

O Gato e o Judaísmo: No Talmude, o gato só aparece cerca de 500 d.C., quando o livro sagrado louva brevemente seu asseio. Entretanto, uma antiga lenda hebraica conta que o gato teria sido criado em plena Arca, quando Noé, em desespero por que os ratos estavam se multiplicando e devorando todas as provisões, implorou à Deus que lhe enviasse uma solução. O gato então teria sido criado de um sopro do leão. Outra antiga lenda judaico-espanhola diz que Lilith, a primeira mulher de Adão, o teria deixado para se transformar em um vampiro, que sob o aspecto de um gato preto, atacava bebês adormecidos e indefesos e lhes sugava o sangue.

O Gato e o Cristianismo: A Igreja , no início de sua história, adotou alguns símbolos pagãos e rejeitou outros. Assim, Jesus se tornou "o Leão de Judá", e a serpente a égide do mal. Na seita dos coptas, surgida por volta do século I d.C., havia no evangelho gatos que julgavam os homens após a morte. A primitiva Igreja celta associou vários santos às tradições pagãs e ao culto ao gato. Santa Gertrudes de Nivelles, por exemplo, é representada sempre com um gato, e, na França, dizia-se que Santa Ágata transformava-se em um gato enfurecido para punir os infiéis. Na Idade Média, entretanto, a imagem do gato começou a mudar. No século V, os gnósticos, que atribuíam igual importância a Jesus, Buda e Zoroastro, foram acusados de adorar o demônio na figura de um gato preto. No ano de 1232, o papa Gregório IX funda a Santa Inquisição, com o intuito de descobrir heréticos que cultuavam o demônio, novamente na figura de um gato preto, macho. Em 1344, surge na França, o culto de São Vito, em Metz, queimando vivos anualmente 13 gatos em uma gaiola. Quando a Peste Negra atacou a Europa, dizimando quase um terço da população, inicialmente os gatos foram considerados culpados e perseguidos, ordenando-se a sua destruição. A associação da figura do gato ao culto ao demônio levou inevitavelmente à sua vinculação à feitiçaria e às artes mágicas. No século XV, na Alemanha, ressurgem cultos pagãos como o da deusa Freya. Em 1484, o papa Inocêncio VIII difunde a crença de que as feiticeiras veneravam Satanás encarnado em gato. Por toda a Europa, pessoas inocentes foram torturadas em nome de Deus. E, com elas, seus gatos. Em Ypres, na França, centenas de gatos eram atirados do alto de um campanário em um festival anual. Milhares de gatos foram sacrificados em rituais durante a Páscoa. A perseguição chegou até mesmo à América, quando, em 1692, várias pessoas foram executadas em Salem, no estado de Massachusetts. Entretanto, mesmo nestes tempos inglórios, os gatos foram também companheiros amados em alguns países, como na Rússia, onde eram comuns serem encontrados em conventos e mosteiros. O Cardeal Richelieu possuía vários gatos, entre eles um angorá preto chamado Lúcifer. No sul da França, corria a lenda dos gatos mágicos chamados matagots, que traziam fortuna e sorte a quem os acolhia e amava. Com o passar do tempo, a perseguição foi recrudescendo, e a importância dos gatos como controladores dos roedores foi reconhecido. No século XVIII, são abolidas as leis sobre a feitiçaria, e até mesmo o papa Pio IX rendeu-se aos seus encantos.

Fonte: Planeta Gato

O GATO ZEN

O Homem estava muito triste. Sabia que os dias do Gato estavam contados. O médico havia dito que não havia mais nada a fazer, que ele deveria levar o Gato para casa, e deixá-lo o mais confortável possível.

O Homem acariciou o Gato em seu colo e suspirou. O Gato abriu os olhos, ronronou e olhou para o Homem. Uma lágrima escorreu pela face do Homem e caiu na testa do Gato. O Gato lhe lançou um olhar ligeiramente irritado.

"Por que você está chorando, Homem?", perguntou. "Porque não suporta a idéia de me perder? Porque acha que nunca vai poder me substituir?"

O Homem fez que sim com a cabeça.

"E para onde acha que eu irei quando deixar você?", o Gato perguntou.

O Homem deu de ombros, sem saber o que dizer.

"Feche os olhos, Homem", disse o Gato. O Homem o olhou sem entender bem, mas obedeceu.

"De que cor são meus olhos, meu pêlo?", o Gato perguntou.

"Os olhos são dourados e o pêlo é marrom, um marrom intenso e vivo", o Homem respondeu.

"E em que parte do corpo tenho pêlos mais escuros?", o Gato perguntou.

"Nas costas, no rabo, nas pernas, no nariz e nas orelhas", disse o Homem.

"E em que lugares você mais costuma me ver?", perguntou o Gato.

"Eu vejo você... no parapeito da janela da cozinha, observando os passarinhos... na minha cadeira preferida... na escrivaninha, deitado em cima dos papéis de que eu preciso... no travesseiro ao meu lado, à noite".

O Gato assentiu.

"Você consegue me ver em todos esses lugares agora, mesmo de olhos fechados?", perguntou.

"Claro. Vi você neles por muitos anos", o Homem disse.

"Então, sempre que você quiser me ver, tudo o que precisa fazer é fechar os olhos", disse o Gato.

"Mas você não vai estar lá de verdade", respondeu o Homem com tristeza.

"Ah, é mesmo?", disse o gato. "Pegue aquele barbante do chão - ali, meu 'brinquedo'".

O Homem abriu os olhos, esticou o braço e pegou o barbante. Tinha uns 60 centímetros e o Gato conseguia se divertir com ele por horas e horas.

"De que ele é feito?", o Gato perguntou.

"Parece que é de algodão", o Homem disse.

"Que vem de uma planta?", perguntou o Gato.

"Sim," disse o Homem.

"De uma só planta ou de muitas?"

"De muitos algodoeiros," o Homem respondeu.

"E seria possível que outras plantas e flores nascessem no mesmo solo do algodoeiro? Uma rosa poderia nascer ao lado do algodão, não?", perguntou o Gato.

"Sim, acho que seria possível", disse o Homem.

"E todas as plantas se alimentariam do mesmo solo e da mesma chuva, não é?", o Gato perguntou.

"Sim", disse o Homem.

"Então, todas as plantas, a rosa e o algodão, seriam muito parecidas por dentro, mesmo aparentando ser muito diferentes por fora", disse o Gato.

O Homem concordou com a cabeça, mas não conseguia entender o que aquilo tinha aver com a situação.

"E então, aquele barbante", disse o Gato, "é o único barbante do mundo feito de algodão?"

"Não, claro que não", disse o Homem, "foi tirado de um rolo de barbante".

"E você sabe onde estão todos os outros pedaços de barbante, e todos os outros rolos?", perguntou o Gato.

"Não, não sei... seria impossível saber", disse o Homem.

"Mas mesmo sem saber onde estão, você acredita que eles existem. E mesmo que alguns pedaços de barbante estejam com você, e outros estejam em outros lugares... mesmo que alguns sejam curtos e outros sejam compridos, e mesmo que seu rolo de barbante não seja o único no mundo... você concorda que há uma relação entre todos os barbantes?", o Gato perguntou.

"Nunca tinha pensado nisso, mas acho que sim, há uma relação", o Homem disse.

"O que aconteceria se um pedaço de barbante caísse no chão?", perguntou o Gato.

"Bom... ele ia acabar enterrado, e se decompondo na terra", o Homem disse.

"Sei", disse o Gato. "E talvez nascesse mais algodão naquele lugar, ou uma rosa".

"Pode ser", concordou o Homem.

"Quer dizer que a rosa no parapeito da janela pode ter alguma relação com o barbante na sua mão, e também com todos os barbantes que você nunca viu", disse o Gato.

O Homem franziu a testa, pensando.

"Agora pegue uma ponta do barbante em cada mão", instruiu o Gato.

O Homem fez o que foi pedido.

"A ponta na mão esquerda é o meu nascimento, e a na mão direita é minha morte. Agora junte as duas pontas", disse o Gato.

O Homem obedeceu.

"Você formou um círculo contínuo", disse o Gato. "Alguma parte do barbante parece diferente, melhor ou pior que qualquer outra parte dele?"

O Homem examinou o barbante e então fez que não com a cabeça.

"O espaço dentro do círculo parece diferente do espaço fora dele?", o Gato perguntou.

De novo, o Homem fez que não com a cabeça, mas ainda não sabia se estava entendendo onde o Gato queria chegar.

"Feche os olhos de novo", disse o Gato. "Agora lamba a mão".

O Homem arregalou os olhos, surpreso.

"Faça o que eu digo", disse o Gato. "Lamba a mão, pense em mim em todos os meus lugares costumeiros, pense em todos os pedaços de barbante, pense no algodão e na rosa, pense em como o interior do círculo não é diferente do exterior".

O Homem se sentiu bobo, lambendo a mão, mas obedeceu. Ele descobriu o que um gato deve saber, que lamber uma pata é muito relaxante, e ajuda a pensar mais claramente. Continuou a lamber, e os cantos da boca começaram a esboçar o primeiro sorriso que ele dava em muitos dias. Esperou que o Gato lhe mandasse parar mas, como este não mandou, abriu os olhos. Os olhos do Gato estavam fechados. O Homem acariciou o pêlo marrom, quente, mas o Gato havia morrido.

O Homem cerrou os olhos com força e as lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

Viu o Gato no parapeito da janela, na cama, deitado em cima dos papéis importantes. Ele o viu no travesseiro ao seu lado, viu os olhos dourados brilhantes, e o marrom mais escuro no nariz e nas orelhas. Abriu os olhos e, por entre as lágrimas, olhou para a rosa que crescia em um vaso na janela, e depois para o barbante que ainda segurava apertado na mão.

Um dia, não muito depois, tinha um novo Gato no colo. Era uma linda gata malhada... tão diferente do seu querido Gato anterior mas, ao mesmo tempo, tão parecida.

Tradução: Daniela Travaglini
Copyright © 2001 by Jim Willis. Todos os direitos reservados.
Copyright da tradução brasileira © 2003 by Lugano Editora

POR QUE PRECISAMOS DOS HUMANOS?

1. Introdução: Por que precisamos dos humanos?
Então você decidiu adotar um ser humano... Ao tomar essa decisão, você se juntou a milhões de outros gatos que adquiriram essa criatura estranha e muitas vezes frustrante. Durante o seu período de associação com humanos, você irá se perguntar várias vezes porque se deu ao trabalho de agracia-los com a sua presença.
Qual é o grande lance dos humanos? Por que não continuar andando com outros gatos? Nossos maiores filósofos tem se perguntado as mesmas coisas por séculos, mas a resposta na verdade é bem simples: ELES TEM POLEGARES OPOSITORES

Isso faz deles ferramentas perfeitas para efetuar tarefas como abrir portas, abrir latas de ração, mudar canais de televisão e outras tantas atividades que nós, apesar de todas as nossas outras vantagens óbvias, consideramos difíceis de realizar. É verdade que chimpanzés, orangotangos e lêmures também têm polegares opositores, mas eles não são tão fáceis de adestrar.

2. Como e quando conseguir a atenção do seu humano
Humanos várias vezes acham (erroneamente) que existem outras atividades mais importantes que cuidar das suas necessidades imediatas; coisas como trabalhar, passar tempo com a família e/ou até mesmo dormir.
Apesar disso ser terrivelmente inconveniente, você pode tirar vantagem disso, incomodando seu humano quando ele estiver muito ocupado. O ser estará tão afobado, que irá fazer qualquer coisa que você queira, só para te tirar do caminho (e do cabelo dele). Não é por coincidência que adolescentes humanos fazem a mesma coisa.
Segue aqui uma lista de métodos testados e aprovados para conseguir que seu humano faça o que você quer:
-Sentar sobre papel: é velha mas sempre funciona. Se um humano tem um pedaço de papel à sua frente, existe uma grande possibilidade que ele ache que é algo mais importante que você. Ele geralmente te oferecerá um petisco para afasta-lo dali. Estabeleça sua supremacia sobre esse produto de massa de madeira todas as vezes que surgir uma oportunidade. A tática também funciona bem com teclados de computador, controles remotos, chaves e crianças pequenas. OBS.:Uma pequena alteração no método que deixa minha dona louca: deite-se sobre o monitor e deixe o rabo pender sobre a tela.
-Acorde seu humano em horas impróprias: As "horas douradas" de um gato são entre 3:30 e 4:30 da manhã. Se você der patadas na cara do seu humano adormecido durante esse período, você tem uma ótima chance que ele levante e, na sua semiconsciência, faça exatamente aquilo que você quer. Talvez você precise arranhar um humano que tenha sono profundo para conseguir chamar sua atenção. Lembre-se de variar o local do arranhado para evitar que o humano fique desconfiado. OBS.:Se durante o seu período de sono seu humano se mexer e te acordar, use o procedimento citado acima. Isso vai ensina-lo a descobrir quem manda e a tomar mais cuidado quando se mover dormindo.
3. Punindo seu ser humano
Algumas vezes, apesar de todos os seus esforços para adestrar seu humano, ele teimosamente irá resistir à sua vontade. Nessas circunstâncias extremas, você precisará puni-lo. Punições óbvias como arranhar os móveis ou comer plantas, geralmente são um tiro pela culatra; esses seres não tem nenhuma sofisticação e provavelmente interpretarão erroneamente suas atividades e (pasme) tentarão te educar.
Nós oferecemos a você alternativas mais sutis, mas nem pôr isso menos efetivas:
* Use a caixa de areia durante um importante jantar formal.
* Fique encarando ostensivamente seu humano enquanto ele tenta ter um interlúdio romântico. OBS.: se não funcionar com o seu humano, com certeza irá funcionar com o parceiro dele.
* Depois de seu humano ter assistido um filme de terror particularmente apavorante, posicione-se na frente de uma porta fechada e comece a se afastar vagarosamente para trás, bufando e chiando OBS.:se conseguir, arrepie os pêlos das costas.
* Quando seu humano estiver dormindo, deite-se sobre sua cara.
4. Recompensando seu humano: seu presente deve estar ainda vivo?
O mundo dos gatos se divide sobre a questão de etiqueta de presentear humanos com animais vivos ou mortos. Alguns acreditam que humanos preferem esses presentes já mortos, enquanto outros dizem que humanos apreciam um grilo ou roedor morrendo em agonia tanto quanto nós, falam isso baseando-se nos movimentos (aos saltos) alegres que eles fazem ao pegar as criaturas com que são presenteados.
Após muita consideração sobre a psique humana, nós recomendamos o seguinte: animais de sangue frio (grandes insetos, sapos, lagartos, cobras de jardim e minhocas) devem ser apresentados mortos, já animais de sangue quente (aves, roedores, o cãozinho miniatura do vizinho) são mais bem recebidos quando vivos. Quando você vir a expressão na face do seu humano, verá que valeu a pena.
5. Por quanto tempo você deve manter seu humano?
Você só é obrigado a manter um humano por uma das suas vidas, nas outras oito, faça o que quiser. Nós recomendamos que você varie um pouco, apesar de que no fim você irá descobrir que a maioria dos humanos (pelo menos os que valem a pena conviver) são bem parecidos. Mas o que você queria? Eles são humanos afinal de contas, e polegares opositores não são tudo na vida.

Partes do texto "A CAT'S GUIDE TO HUMAN BEINGS"
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